Relato – Marathon Pour Tous

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Correr em um evento como as Olimpíadas era algo que nenhum atleta amador imaginava que um dia seria possível, até surgir, nesta edição de Paris 2024, a oportunidade.

Foram abertas 20.024 vagas para a distância de 10K e outras 20.024 vagas para os 42K, esta última repetindo exatamente o mesmo percurso feito pelos atletas de elite durante os jogos.

As inscrições foram feitas por sorteio em desafios e eventos, geralmente organizados pela Orange, que disponibilizavam vagas para as pessoas.

Eu, sinceramente, estava inscrito, mas na minha cabeça era praticamente impossível participar desta maratona. Tanto que fiz Barcelona neste ano justamente por considerar praticamente descartada a ideia dos 42K em uma Olimpíada no quintal de casa, em Paris. Mas tudo mudou quando chegou o e-mail com o “você está dentro”.

Tinha tempo suficiente para fazer um ciclo completo sem maiores preocupações. O percurso prometia, e muito. De Paris a Versailles, ida e volta, temos um ganho de elevação de quase ou pouco mais de 500 metros, e uma subida com uma inclinação de pelo menos 16% na volta. Comentarei mais sobre isso adiante. E o fato de fazer uma maratona com a largada às 21h, ou seja, uma corrida que prometia adentrar a madrugada.

Foram praticamente 1 mês e meio rodando pelo menos 30K todo fim de semana, além de inúmeros treinos de esteira que batiam pelo menos 2 horas do dia, treinos em dois períodos, para me preparar bem para as subidas.

Nesse meio tempo, conheci um grupo de poucos brasileiros, cerca de 200, que fariam a prova, o que me ajudou a entrar um pouco mais nesse desafio. Ganhei até um tênis em um sorteio para os participantes, ofertado pela Olympikus.

Chegou a semana da prova, bastante descanso para recuperar bem para o dia 10, o grande dia.

A prova não teve um kit propriamente dito, apenas uma camiseta fornecida pela Orange alguns dias antes da retirada oficial do número de peito. Como estava em Paris nesses dias, consegui pegar uma para mim.

No sábado, fomos bem cedo, por volta das 7h, para a estação pegar o TGV no percurso Lyon – Paris, descendo na estação da Disney por volta das 11h, e de lá para o hotel.

O grupo de brasileiros marcou um evento com o Vanderlei Cordeiro de Lima, 3º colocado na maratona olímpica de Atenas, a famosa edição em que o padre invadiu a prova, o agarrou e o derrubou, fazendo com que ele perdesse a liderança e ficasse com o terceiro lugar da prova. Não consegui ir a este evento por conta da logística que tinha marcado meses antes, mas tudo bem.

Fomos almoçar massa assim que chegamos ao hotel, e de lá fomos direto retirar o número de peito, por volta das 15h do sábado. Não enfrentei filas no local e para chegar lá só precisei contornar os bloqueios, já que aconteceu entre várias arenas, o que causou o fechamento de várias estações e ruas ao redor.

A retirada do número de peito foi assim:

  • Sexta-feira, 9 de agosto de 2024: das 10h às 20h.
  • Sábado, 10 de agosto de 2024: das 10h às 18h para a maratona.
  • Sábado, 10 de agosto de 2024: das 10h às 20h para os 10km.

De lá fui para o hotel tentar descansar um pouco, até umas 19h, já que planejava sair para a prova 1h antes da minha largada.

A largada tanto dos 10k quanto dos 42k aconteceu em 8 ondas, com diferença de 10 minutos entre cada uma. Os 42k largando entre 21h e 22h10, e os 10k entre 23h30 e 0h40, com o start próximo à Place de l’Hotel de Ville.

A largada ficava a cerca de 3km do hotel. Fui de metrô até lá, andando poucas estações e descendo na estação Bastille.

Por volta das 21h15 já estava posicionado no curral. Restou então aguardar o horário e o início da prova.

Fiz bem em levar água, estava muito quente ainda e seria algo que faria falta se não tivesse levado.

A prova começou para mim pontualmente às 21h50, sem atrasos, o que é esperado pelo tamanho do evento. Saindo pelas ruas de Paris, não esperava que teria tanta gente acompanhando. Era praticamente como correr uma Major durante a madrugada. Foi uma surpresa agradável, considerando o horário.

Planejei manter um aquecimento de 5km baseado na frequência cardíaca e fazer o restante da prova com base nela, e não no pace. E foi nisso que me concentrei. Consegui controlar e seguir o plano até o km 28, correndo de forma conservadora.

As paradas até a subida do km 28 foram basicamente a cada 2.5km nos postos de hidratação, que começaram a partir do km 5, para beber água e me molhar, aliviando o calor. Também fiz paradas em alguns pontos turísticos para registrar o momento.

O percurso contou com muitos pontos com música e iluminação, como geralmente vemos em corridas noturnas. O trajeto em si era bem iluminado, dispensando uma headlamp.

Havia também dois pontos de transporte para quem quisesse abandonar a prova, nos kms 20 e 30, e ainda podiam ganhar um certificado de não concluintes. Achei a ideia engraçada, mas essa eu dispenso.

Houve também telões ao longo do percurso, com mensagens gravadas e enviadas para os participantes, além de mensagens de apoio gravadas por atletas profissionais.

Os pontos de hidratação ofereciam basicamente as mesmas opções: água, algumas opções de doces, bala de goma, bolo e banana. Senti falta apenas de um isotônico e de uma Coca-Cola, que cairia bem por volta do km 30 para subir o sódio. Acho que esta é minha única crítica ao evento, ainda mais que eles são os parceiros oficiais dos jogos.

Pela altimetria que vi, já esperava uma dificuldade entre o km 28 e 30, mas não do tamanho que foi. Praticamente uma montanha para subir, eu não tinha muita energia sobrando e me poupei caminhando em todo esse trecho. A descida fiz correndo, e os 10k restantes foram na base do “corre um pouco e caminha”. Estava com o estômago embrulhado, talvez pela quantidade de água e gel que programei para tomar a cada 5k. Tentei experimentar uma bolacha salgada em um dos pontos de hidratação para o sal, mas só piorou as coisas, deixando minha boca seca por belos kms, e nem os pontos seguintes ajudaram a melhorar. A missão desses últimos kms foi basicamente completar, não importava como.

E terminei essa prova com 4h40. Foi uma prova para se divertir, sem maiores preocupações ou cobranças. Então, missão cumprida.

Vi bastante gente passando mal, com hipertermia, até mesmo no metrô na volta.

Encontrei a Raquel e o Léo (que fez os 10k) no final da prova me esperando em uma área VIP que alguns tiveram acesso, meio que uma arquibancada na linha de chegada na região dos Invalides. Foi bem tranquilo assistir de lá e sair de lá, ainda mais com a polícia fechando um perímetro fazendo com que somente corredores e pessoas com autorização tivessem acesso a área.

Terminei num estado em que a bandeira do Brasil, que sempre uso para registrar o fim das provas, estava pesada.

Foi uma prova incrível, difícil, pesada, olímpica. Ficará para sempre na memória, a primeira prova de uma Olimpíada para amadores.

Resultado:

confirmation_number Número de Peito 4336
supervisor_account Modalidade 42k
access_time Tempo Final 04:46:03
access_time Tempo Relógio 04:40:48
hourglass_full Tempo Bruto 05:37:53
timelapse Pace Médio 6:33 min/km
timelapse Velocidade Média 9,2 km/h
help_outline Outras Informações Garmin

Sobre

Guarulhense, desenvolvedor de softwares e soluções web, apaixonado por corridas, fotografia, viagens e muito rock.

http://www.diegoronan.com.br